Retrato Desbotando
O tempo faz desbotar o momento capturado numa foto e impresso.
O amor que não existe, aquele que é mera suposição,
Também desbota, vai esmaecendo, se esgotando...
Caminha para o vazio.
É que a relação não passava de um gostar bem grande,
Mas insuficiente para desabrochar em amor.
O convívio alegre,
As identificações de gosto,
A química que incendiava o sexo,
Não resiste se o gostar não se transmuta em amar.
E se a coversa é livre, confidente, cúmplice.
Se a confiança é crescente,
Se o fazer sexo torna-se fazer afeto,
Mais é preciso para ser amor.
Por tanto gostar inventamos um amor,
Talvez que desejássemos existir,
E passamos a acreditar em sua existência,
Tamanho o gostar, a identificação,
Um fazer afeto que nada deixa a desejar.
Mas...
Amor não é invenção.
É trabalho de construção,
É disponibilidade para dividir,
É vontade quase incontrolável de estar junto,
E necessita de altruismo e empenho.
Amar é tão essencial
Que ao termos afeto e confiança em alguém,
Logo sonhamos que estamos amando.
Doamos, recebemos, rimos, choramos... juntos.
O que não significa unidos,
E amar é união.
Mantemos a conversa mais e mais despida de preconceito ou qualquer reserva.
Nos socorremos nos maus momentos e damos o ombro com carinho,
Procuramos aprender e ensinar um ao outro como melhor viver.
E na cama, melhor, em todo lugar onde fazemos sexo,
Nos permitimos entrega verdadeira, nada de tabu ou pudor.
E lá vamos escrendo a história do sonho de amor,
Vivendo momentos lindos, cheios de ternura e ardor,
Nunca deixando que se apague a química do sexo e seu furor.
Inventamos mil fantasias,
Lemos excitantes textos,
Assistimos até vídeos porno,
Colocando em prática tudo isto e
Curtindo um tesão nunca sonhado.
Tudo isto é amor?
Um dos que formam o par disse que isto é gostar.
E não por acaso,
Nosso retrato insiste em desbotar.
Magda Almodóvar
22 de outubro de 2007
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
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